Hoje chorei na minha janela!
A minha infância teve momentos muito difíceis, muito tristes. Nalguns desses momentos, eu lembro-me de ir para a janela do meu quarto, abrir a cortina e chorar na janela. A minha esperança era que alguém me visse a chorar e viesse ter comigo, me consolasse e me levasse dali. Isso nunca aconteceu.
Por estes dias voltei a chorar “na minha janela”. Tive uma desilusão grande, que veio de uma pessoa que não era suposto desiludir-me da forma como o fez. Fiquei zangada, triste, revoltada e fui chorar na minha janela. Queria que tivessem pena de mim, que me levassem dali, porque, afinal, eu tinha sido traída, magoada por alguém que não o devia ter feito. Chorei na minha janela algum tempo, tempo demais. O meu marido dizia-me que a nossa obrigação, como cristãos, é amar as pessoas, independentemente dos seus actos, que é isso que Jesus nos diz para fazer. Que a nossa marca, como cristãos, é o Amor e que devemos sempre confiar naquilo que o Senhor tem para nós, que devemos esperar em Deus. Não quis ouvir, porque queria chorar na minha janela.
Lembrei-me que se aproxima a Páscoa e lembrei-me da Última Ceia de Jesus com os seus discípulos. Jesus levanta-se, tira o manto, põe uma toalha e vai lavar os pés aos seus amigos. Pedro reclama e diz que não quer que o seu Senhor lhe lave os pés. Ora, eu identifico-me sempre muito com Pedro. Pedro ama Jesus, Pedro está lá com Jesus desde o início, Pedro sabe quem Jesus é, mas às vezes é impulsivo, acha que sabe mais que o seu Mestre e, mais, do que isso, acha que pode mudar o rumo da história. Pedro, aqui, na minha opinião, ainda não tinha compreendido, profundamente, no seu coração, quem era Jesus, que tipo de Mestre e Senhor era Jesus e é, por isso, que ele se espanta “Senhor, lavas-me os pés a mim?” (Jo.13, 6). Jesus ainda lhe diz: “O que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois”(Jo. 13, 7). Mas Pedro insiste: “Nunca me lavarás os pés ”(Jo. 13, 8). Mas Jesus diz-lhe que se: “Se eu te não lavar os pés, não serás meu discípulo!”. (Jo. 13, 9). Então Pedro, que como eu, acha que mais é melhor, responde: “Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.” Ao que Jesus responde: “Aquele que já está tomou banho, não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos…”
Ora, perguntam vocês o que tem a ver isto com a “minha janela”?
Dei por mim a pensar que, como seguidora e discípula de Jesus, eu já tomei banho, porque aceitei que Jesus entrasse na minha vida e fosse o meu Senhor e o meu Salvador. No entanto, não sou perfeita, porque, como diz Jesus, tenho que “lavar os pés”, pois peco e, assim, há parte de mim que precisam de ser limpas e se eu não aceitar isso não sou verdadeira discípula. Eu peco! EU! Não são só os outros que causam desilusão, engano e sofrimento. EU também o faço e foi isso que fiz quando me limitei a ir “chorar na minha janela”, quando me deixei levar pela raiva e pelo desespero. Sujei os pés e precisei de os lavar.
Outra coisa que emociona sempre nesta passagem bíblica, é o facto de vermos Jesus como o Verdadeiro Mestre e Senhor. Quero com isto dizer, que Jesus, Verdadeiro Mestre e Senhor, toma uma atitude de servo para com os seus amigos e irmãos. Apresenta-se de uma forma bastante radical. O verdadeiro líder é o que serve!
“Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outro (Jo, 13,14). Mais do que isso, Jesus diz que devemos fazer o mesmo que ele fez: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”(Jo, 13,15).
Mais uma vez lembrei-me da “minha janela.” Não deveria, como discípula de Jesus, ter tido uma atitude menos orgulhosa? Afinal, pus-me numa situação de superioridade relativamente àquela pessoa e relativamente à minha tristeza. Não digo que não deveria ter ficado triste e desiludida. Afinal sou humana. Mas, o deixar-me levar por esses sentimentos, o alimentar o ressentimento não foi uma atitude de quem está disposto a lavar os pés aos seus irmãos.
Quando era criança, chorava na minha janela porque sofria e porque achava que ninguém me podia ajudar. Hoje não sou criança, nem em anos, nem em fé. Paulo diz na 1.ª Carta aos Coríntios, no capítulo 13, “quando eu era criança, pensava como criança, sentia como criança. Agora que sou adulto, parei de agir como criança.” Hoje tenho em quem me apoiar, sei que Deus está comigo, que “tudo posso N’Aquele que me fortalece” (Fil. 4, 13).
Paz e Bem!
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